O Paradoxo do Perfecionismo
Publicado em 28/09/2023
“Adoramos a perfeição porque não a podemos ter;
Repugná-la-íamos se a tivéssemos.
O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito”
(Fernando Pessoa)
Quando falo em perfecionismo, não falo numa pessoa que demonstra níveis saudáveis e adaptativos de empenho e dedicação. Ao falar em perfecionismo, refiro-me a um traço de personalidade que visa possuir padrões de exigência autodirigida demasiado elevados, padrões estes que estão associados a uma avaliação excessivamente crítica por parte do sujeito acerca do seu desempenho e dos seus resultados. Desta forma, o perfecionismo surge altamente relacionado com a autocrítica.
Uma dose moderada de autocrítica é saudável para que possamos aprender com os nossos erros e perceber onde poderemos melhorar no futuro. Essa autocrítica, que podemos considerar de positiva, deve também ser balanceada com reconhecimento e valorização do trabalho realizado. Contudo, isto tende a não acontecer em pessoas com tendências perfecionistas, que apenas se focam nos resultados que não atingiram ou no que correu mal, costumando até justificar o seu bom desempenho como sendo “a sua obrigação” ou “sorte”.
O perfecionismo poderá ter o efeito reverso de atrasar prazos de entrega por querer ir ao detalhe que não era necessário, deixar tarefas por terminar por achar que não têm a qualidade que desejaria, ou pode até andar de mãos dadas com a procrastinação. Perfecionismo e procrastinação parecem ideias contraditórias, correto? Mas nem sempre é assim. Pessoas com tendências perfecionistas costumam ter um excessivo medo de falhar, e adiam a tarefa ao máximo por receio de ainda não estarem reunidas as condições necessárias para terminar a tarefa com o nível de qualidade que pretendem. A procrastinação está, na maioria das vezes, relacionada com o medo de se encontrar com o possível insucesso.
O principal problema reside no facto de a perfeição não admitir erros ou falhas – mas não será o erro incontrolável no ser humano? Sendo assim, por mais que nos esforcemos e que façamos o melhor que conseguimos, nunca alcançaremos a perfeição, porque ela não existe. Portanto, existe uma busca constante por algo inalcançável, o que faz o que o indivíduo se sinta constantemente insatisfeito, o que pode desencadear elevados níveis de frustração e ansiedade.
Agora que percebemos a relação entre perfecionismo, autocrítica e procrastinação, deixo-lhe algumas dicas que irão ajudá-lo a quebrar estes ciclos:
- Defina objetivos realistas por forma a ser possível alcançá-los e reforce-se positivamente quando os atingir (e.g., faça uma atividade que goste; coma a sua comida favorita);
- Pratique a autocompaixão – fomente um diálogo interno compreensivo, ou seja, converse consigo próprio como conversaria com um amigo (Em vez de dizer a si próprio “Devia ter feito melhor”, experimente dizer “Fiz o melhor que consegui com os recursos que tinha”);
- Compare-se apenas com o seu próprio progresso e evite comparar-se com as outras pessoas;
- Tente identificar a função que o perfecionismo tem na sua vida;
- Aceite as suas vulnerabilidades;
- Aceite que vai errar e falhar em vários momentos da sua vida, e que isso servirá como oportunidade de aprendizagem.